A perenidade de uma manifestação artística depende de registros emocionais, alguns presentes somente na memória humana. Essa é uma dificuldade enfrentada pela dança, o que a torna uma arte efêmera. Foi essa especificidade e a ausência de registros materiais sobre a história da dança, em especial a baiana, que motivaram Lia Robatto e Lúcia Mascarenhas, duas pesquisadoras e bailarinas de primeira grandeza, a produzirem o livro Passos da dança – Bahia, lançado em 2002, como parte da Coleção Casa de Palavras, da Fundação Casa de Jorge Amado. A obra traça um panorama das atividades em dança cênica, realizadas em Salvador no período compreendido entre a fundação da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, em 1956, chegando até os últimos anos.
No livro, as autoras buscam retratar como a história da dança se entrelaça com a história da Bahia. A cultura baiana, marcada pelo ecletismo musical, em ritmos e danças, está presente na vida cotidiana de seu povo, que utiliza uma linguagem gestual própria, inspirando uma dança cênica peculiar. "O gosto pela inovação dos baianos também é ressaltado, e parece resultar de uma espécie de antropofagia cultural temporária. As danças vindas de outros lugares são constantemente absorvidas, assimiladas e recriadas, e as matrizes tradicionais não são perdidas, mas transformadas", analisa Lia Robatto.
O livro reúne informações detalhadas sobre diversas instituições, companhias e grupos baianos de dança, contando sua criação, princípios e influências, destacando dançarinos, críticas e até coreografias e espetáculos produzidos. Tem depoimentos de bailarinos e coreógrafos que atuaram na formação e profissionalização das atuais gerações. O caráter subjetivo dos depoimentos, nem sempre coerentes entre si, produz uma história multifacetada e rica, devido aos múltiplos enfoques pessoais.
Na descrição da história da dança brasileira, e não apenas baiana, as autoras discutem questões como: a identidade cultural da dança num contexto de globalização; a natureza grupal da dança; e as deficiências e dificuldades específicas da formação do bailarino profissional, na preparação técnico-interpretativa, na criação, montagem e circulação dos trabalhos coreográficos. Mostram os desafios que, atualmente, pesquisadores e profissionais da dança enfrentam e possíveis caminhos para se elaborar uma política cultural que atenda às reais necessidades da profissão.
Postado por Marcio Cunha
DANÇA BAIANA EM RITMO DE HISTÓRIA
às 06:20 Postado por TÁ NA ROÇA O REALITY SHOW
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